Nosso fiel guia Severino jã não é tão fiel. O velho inca decidiu voltar para Mojinete e passar o bastão para outro experiente índio das montanhas, um jovem que mal falava espanhol e misturava essa língua com quéchua.
Tentamos fazer o trecho final de carro, mas não há estradas que liguem o povoado a qualquer outra cidade.
Vimos cenários impressionantes, mas fui incapaz de registrá-los.
Como disse, tenho poucas imagens desse dia. Mas posso garantir que vimos:
Terceiro dia
29 de maio de 2009 Postado por Nós às 10:38 Marcadores: Bolívia ComenteEsse foi o dia mais tenso e intenso da viagem.
Então deixamos Bonete Palca, a pé, em direção a Guadalupe sem nenhuma gota de água nas mochilas. A única opção foi um refrigerante local feito com papaya (uma fruta local com sabor parecido ao maracujá). Seguimos com bolacha, frutas e a única bebida disponível.
O jornalista e fotógrafo teve que dar espaço para a criança que precisava chorar. E no primeiro abismo sobre pedras que cruzou, as pernas tremeram de novo e ela não conseguiu seguir adiante.
Chorei um choro forte e longo. E, pela primeira vez, o Dezinho não insistiu. Ficou de pé, ao meu lado, e esperou a minha vez de seguir.
A cena se repetiu algumas outras vezes: algumas experiências não resolvidas da infância vieram à tona, questionei alguns atos do passado e descobri que tenho um anjo sem asas que me acompanha há quatro meses em solos latinos
1) cabras escalando paredões quase verticais para comer;
2) cemitérios incas escondidos;
3) a tríplice fronteira entre a Bolívia, o Chile e a Argentina;
4) crianças e filhotes de animais me esperando na esperança de que eu lhes registrasse para sempre (E essa foi a minha maior frustração nesta viagem. Fui egoísta e neguei uma imagem por conta do corpo cansado e da boca seca).
Insistente, o Dezinho ainda conseguiu registrar um dos momentos mais difíceis da caminhada: a travessia, a 4.500 metros, para chegar a Guadalupe.
(A sensação de sede extrema faz doer a garganta e a alma)
Chegamos ao destino final e fomos recebidos, como sempre, com um carinho raro de ser visto no resto do país.
As conclusões ainda estão sendo processadas, mas voltamos felizes, ainda que de carona na traseira de um caminhão:
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