O segundo dia

28 de maio de 2009 Comente

Desistir daquele ponto significava caminhar de volta mais dez horas e correr os mesmos riscos. Por isso, decidimos, bem cedo, seguir em frente à próxima cidade: Bonete Palca.

(amanhecer em La Ciénaga)

E se você quiser conhecer o mais íntimo e profundo desse país de origens indígenas, a regra é subir.
(Pucapampa)

E seguimos viagem...
Nosso guia garantiu que o segundo dia da caminhada seria mais leve. Mas sabe quando a enfermeira diz que não vai doer a injeção? Assim me senti, fui enganado pelo inca que já tinha pés acostumados a escalar montanhas e rochas.
Naquele dia, começamos a sentir o risco da viagem.
As cidades onde parávamos não contavam com estruturas mínimas para visitantes como água potável e banheiros. Por isso começamos a deixar de lado alguns paradigmas para mergulharmos de cabeça na antiga civilização inca.
Caminhamos por quebradas:

(Quebrada Tiqueo)

Bebemos água de origem duvidosa no rio Guadalupe:


E visitamos casas de seres minúsculos chamados Chulpas, uma sociedade anterior aos incas que desapareceu com a chegada da luz do sol.


Severino começou a 'fazer' o caminho para que pudéssemos andar com segurança. Nosso fiel guia inca já se havia dado conta que aquilo não era para nós e, para isso, nos deixava sentado em uma área segura para descobrir o melhor lugar para passar.
Mas o mais preocupante foi quando o Dezinho anunciou: 'Para mim chega... eu desisto na próxima cidade'.
O André tem sido o meu maior apoio em todas as horas e perder assim uma 'alma' no meio do deserto boliviano não seria a melhor experiência.
Seguíamos com pouca água, duas garrafas pequenas de refrigerante, bolacha e frutas. O sol altiplânico castigava e as primeiras sensações de febre e delírio começaram a dar as caras.
Dali não poderíamos voltar e decidimos chegar até o próximo destino para pedir ajuda terrestre. “Desembarcamos” em Bonete Palca, 7 horas depois.
Vomitei umas frases desconexas para os poucos habitantes que nos receberam.
Deitei na cama tremendo, a boca seca e com falta de ar.
Não havia água, nem banheiro no povoado.
Mas ainda assim consegui registrar as últimas luzes nesse lugar flutuante sobre plataformas aéreas penduradas entre montanhas.

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