O doce e o amargo

16 de setembro de 2009 Comente

Faltam pouco mais de duas semanas para voltar para casa e tentar organizar aquilo que foram planos, se desfizeram ao longo dos últimos oito meses e, agora, são novas dúvidas.

Engana-se quem acreditou e ainda acredita, na teimosia dos atos repetidos no canto da sala de jantar, de que isso foi uma viagem. Sim, carregamos pesadas mochilas nas costas; fizemos e desfizemos várias vezes nosso roteiro; entramos em hotéis e deixamos residências; tomamos aviões, carros, ônibus, canoas, barcos e arranhamos os pés... Mas eu não quero acreditar que tudo isso tenha sido apenas uma (longa) viagem.

Pode parecer paradoxal, mas me sinto pleno e vazio, ao mesmo tempo. Preenchi cada espaço em branco do meu DNA de experiências, mas me sinto incapaz de dar novos passos. Entreguei-me intensamente às experiências mais intensas de um roteiro sonhado na adolescência e agora só quero sentar-me e esperar as formas assumirem suas novas formas, como me explicou, recentemente, um anjo.

São 22h42 de uma noite, infernalmente, quente de Santarém, no Pará. Cada um no canto do quarto abafado, derretidos como um relógio de Dalí, entre paredes que só Berlusconi soube descrever sob o céu que nos protege. E então os últimos meses decidiram querer ser relembrados.

Os nove países saltaram do mapa, os mais de 40 mil km rodados cobraram explicação e as 10.000 imagens clicadas ainda nem foram compreendidas.

As malas já estão prontas para desembarcá-las em São Paulo, mas a alma ainda tem medo.


“Beber o suco de muitas frutas, o doce e o amargo, indistintamente
Beber o possível, sugar o seio da impossibilidade
Até que brote o sangue, até que surja a alma dessa terra, da mata, desse povo triste”
(Secos & Molhados)

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